Inclusão social: o autismo e as novas tecnologias

abr 14, 2021 | Educação & Tecnologia

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As NTICs (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação) têm um papel muito importante na rotina de muitas pessoas. Muito mais do que um simples avanço, os avanços tecnológicos proporcionaram uma nova forma de viver. Quando e se utilizadas com responsabilidade, ética e segurança, as NTICs representam meios de comunicação, interação, entretenimento e acesso à informação. Contribuindo inclusive para maior acessibilidade e democratização do acesso à informação e educação em diferentes âmbitos. Neste texto vamos explorar, em especial, a relação entre o autismo e as novas tecnologias.

Novas tecnologias e acessibilidade

Meu papel como mãe, advogada e sócia de um hub de educação digital me motiva a expor, debater e orientar sobre os diversos riscos e vulnerabilidades atrelados ao mau uso das NTICs. Porém, sempre faço questão de exaltar todo seu valor e incríveis oportunidades que elas permitem  desfrutar. 

A tecnologia , representa não somente inigualáveis atrativos da contemporaneidade, mas também uma ferramenta para facilitar a vida. Graças a esses incríveis avanços, muitas pessoas são capazes de encontrar uma autonomia que, sem elas, talvez nunca tivessem. 

A importância da tecnologia para crianças do espectro autista

Estima-se que três milhões de brasileiros são autistas. Este dado é um reflexo do estudo divulgado pelo Center of Control and Prevention, órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, que aponta a incidência de uma a cada 68 crianças. 

As pessoas consideradas dentro do espectro autista têm uma noção de realidade própria, mas isso não significa que são incapazes de viver em uma sociedade como a nossa. Muito pelo contrário: com o devido acompanhamento e políticas públicas apropriadas para a inclusão, elas estudam, trabalham, se divertem, brincam e também utilizam a tecnologia. Assim, usam celular, tablet, computador e toda os recursos e ferramentas tecnológicas disponíveis.

A proteção dos dados de crianças e adolescentes

Para começar, devemos olhar assim como a Lei Geral de Proteção de Dados. Dessa forma, entender que seus dados merecem o mesmo tratamento dos sensíveis, isso é, com o dobro de zelo e cuidado. E, vale lembrar, não apenas no ambiente tecnológico: todos e todas que prestam serviços para elas como profissionais de fisioterapia, medicina, fonoaudiologia, enfermagem, educação, equoterapia, entre outras. 

Informações sobre o tratamento, tais como sua frequência e respectiva evolução, introduções medicamentosas (quando o caso), desempenho escolar, entre  outras informações relacionadas às crianças do espectro autista devem ser processadas com toda atenção.

Durante a pandemia, quando muitas atividades têm sido online, instituições de ensino e famílias devem atentar-se às peculiaridades de cada criança. Enfim, é importante ter um olhar ainda mais cauteloso para com as autistas.

O autismo e as novas tecnologias

A inclusão digital, sem dúvida, é muito positiva, pra não dizer essencial ao seu desenvolvimento neurológico, bem como à sua independência e comunicação interpessoal. 

Alguns desenvolvedores, por exemplo, já vem criando aplicativos incríveis com funções educacionais e de entretenimento voltadas às crianças e adolescentes que se enquadram no espectro. Porém, com toda esta proposta benéfica, estes aplicativos devem adequar-se à LGPD e já ter a proteção de dados e privacidade no conceito (privacy by design). Ainda que a lei não traga referência direta à questão, o próprio propósito de zelar para que dados não sejam coletados em excesso ou tratados de forma inadequada nos dão a compreensão. Mesmo maiores de 18 anos, os diagnosticados autistas merecem, em minha opinião, a proteção de seus dados como se sensíveis fossem, adotando-se um protocolo apropriado.

Inclusão e responsabilidade

Enquanto sociedade, também devemos ter atitudes empáticas quando dos próprios alertas com relação ao uso das NTICs. Essa luz me resplandeceu mais forte quando uma advogada, amiga querida e mãe de uma criança autista me disse que para muitos autistas, o melhor meio de comunicação é a mensagem instantânea.

Naturalmente, ninguém deve usar a premissa de que pelo fato da tecnologia   ser uma forte aliada para o dia a dia do autista, se pode afrouxar no monitoramento ou deixar de tomar as devidas precauções. Mesmo assim, as autorizações de acesso à geolocalização, câmeras, bem como senhas e navegação segura na internet são responsabilidades intrínsecas de todos. Ou seja, todas que disponham de contato direto ou indireto com quaisquer crianças, independente de sua condição, são responsáveis pelos dados disponibilizados.

A inclusão de pessoas com qualquer tipo de deficiência é um dos Objetivos do Milênio da ONU. Assim, de novo, cabe a todos nós, enquanto sociedade, nos engajarmos para que isso aconteça inclusive no tocante à privacidade e proteção dos dados pessoais de crianças, adolescentes, sendo elas autistas ou não.

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Alessandra Borelli

Alessandra Borelli

Advogada atuante no Direito Digital, sócia e CEO da Nethics Educação Digital, colaboradora dos Manuais de Orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, autora do Manual de Boas Práticas para Uso Seguro das Redes Sociais da OAB/SP, e outros livros, artigos e cartilhas relacionados ao tema. Alessandra é nossa autora convidada e seus textos não refletem, necessariamente, a opinião do Blog PlayKids.
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