Há uns 10 anos, recebi um pedido da Prefeitura Municipal de Curitiba para criar uma campanha publicitária para o Dia dos Professores, com o objetivo de valorizar esses profissionais tão fundamentais em nossas vidas. Como nossa agência costuma sempre fazer, fomos a campo ouvir nossos consumidores (no caso, os professores), para entender de que forma poderiam se sentir valorizados. Nós sabemos que a remuneração da classe está muito aquém da dedicação exigida. Para nossa surpresa, não era dinheiro que reivindicavam. Nem melhores condições materiais de trabalho. Muito menos anúncios e filmes dando parabéns e reconhecendo seu valor durante uma semana. O que desejavam, era pais educadores, ou seja, que cumprissem seu papel de educar, em vez de delegar exclusivamente esta responsabilidade para a escola. E não estavam se referindo apenas ao acompanhamento dos deveres de casa, mas ao papel essencial de passar valores, moldar atitudes e se preparar para a vida. Então, segue a pergunta para a reflexão: até onde vai o papel do professor na educação das crianças?
Nossa campanha se tornou um grande apelo aos pais
Os professores relataram casos de famílias que reclamavam da escola (nas secretarias e nas redes sociais) quando notavam algum comportamento impróprio ou agressivo das crianças em casa ou no convívio social, creditando toda a culpa para a instituição de ensino. Como não podia deixar de ser, nossa campanha do Dia dos Professores se transformou em um grande apelo aos pais, para que assumissem o seu legítimo papel de educar.
Em escolas particulares, o problema era ainda mais grave
Anos mais tarde, dentro do programa Escola Protegida, que desenvolvemos com o personagem Angelino, o anjinho distraído, para reduzir os riscos de acidentes com crianças dentro e fora de casa, pudemos interagir com as escolas particulares e notamos que lá o problema era ainda mais grave. Muitos pais acreditam que o fato de estarem pagando pelo ensino fundamental das crianças, transformava os professores em seus funcionários diretos, a serviço de seus filhos. Um poder que era exercido algumas vezes pela própria criança. Ouvimos relatos de situações humilhantes a que alguns professores foram submetidos no cumprimento do seu dever de coeducar.
“Respeito” e “Limites” são as palavras-chaves
Sou do tempo em que os professores eram autoridades em sala de aula e, muitos deles, conseguiam este status sem precisarem ser autoritários. Alguns iam além: conquistavam a admiração dos alunos, chegando a se transformar em verdadeiros ídolos. Claro que se alguma criança perturbasse a ordem, era convidada a se retirar e passar pela secretaria, onde ganhava uma advertência para levar pra casa e trazer assinada pelos pais. Não consigo imaginar meus pais questionando a escola por me advertirem. O que aconteceu, nas poucas vezes em que passei por esta situação, foi ganhar um castigo além da advertência. Ou seja, aprendíamos em casa a respeitar os outros, em especial os mais velhos. Sabíamos que não era possível ultrapassar certos limites sem a respectiva punição. E procurávamos agir dentro desses limites. Acho importante repetir essas duas palavras: “Respeito” e “Limites”. O grande desafio para as atuais gerações de pais é encontrar uma forma civilizada e carinhosa de conquistar respeito e impor limites.
Com a pandemia, tudo mudou e o papel do professor na educação também
Mas, de repente, veio a pandemia. E com ela o isolamento social, que obrigou os pais a conviverem 24 horas por dia com seus filhos. Nem todos estavam preparados para assumir o cuidado integral das crianças, provendo ensino, lazer, alimentação e, principalmente, atenção. Foi aí que começaram a dar o devido valor às escolas e seus professores. Com as aulas on-line, passaram a entender a importância das atividades educativas e do acompanhamento pedagógico para consolidar o aprendizado de forma estruturada. Enfim, tiveram a oportunidade de aprender a educar e de assumir sua parte nesta sublime missão de capacitar indivíduos para a vida, desde os primeiros anos da infância. Também, entenderam qual é o papel do professor na educação das crianças.
Então, até onde vai o papel do professor na educação das crianças?
Este é um legado que o novo coronavírus deveria nos deixar, já que cobrou um preço tão alto em vidas para mostrar a importância de reorganizar as relações humanas. Esta responsabilidade compartilhada entre família e escola, que muitos pais só perceberam às custas de uma quarentena, é a grande lição que precisa ser aprendida. Ou seja, o papel do professor na educação é enorme, porém, ele precisa andar de mão dada com os pais.
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