O ponto inicial da brincadeira está no momento em que a mãe cruza o olhar com o bebê e ele responde com um sorriso. Ela sorri de volta e, neste momento, os dois estão em sintonia. Essa sinalização do brincar é como um reflexo e é essencial para a criação do senso de segurança coletiva. Ela está na voz, rosto, corpo, gestos e em todo o mundo da criança. Não tem um propósito claro, da mesma forma que brincar também não tem. Mas, afinal, qual sua importância para a família?
O mundo da criança: brincar como estímulo ao cérebro
Nada estimula tanto o cérebro quanto o brincar. As brincadeiras, por exemplo, ativam a parte do nosso cérebro responsável pela coordenação motora, emoções, raciocínio lógico, flexibilidade mental, controle inibitório, entre tantas outras. Os neurocientistas descobriram que o oposto de brincar não é o trabalho, é a depressão. Imagine só a vida sem brincadeiras que imediatamente você entenderá essa descoberta. Nada de risadas, humor, filmes, jogos e fantasias. A brincadeira é essencial para nossa sensação de bem estar e para o desenvolvimento da identidade cultural do adulto e da criança.
Brincar enquanto criador de narrativas individuais e coletivas
Para fazer parte de um grupo, cada indivíduo produz um cenário em que a curiosidade, a exploração e a brincadeira fazem parte. E é nesse local que cada criança e adulto também criam suas narrativas internas, suas próprias histórias. A família ao brincar com a criança transmite seus valores, sua forma de visualizar o mundo e as próprias brincadeiras são passadas de uma geração para a outra. Como resultado, são socializados práticas, rotinas, interesses e construídos significados culturais e modos de interação singulares da estrutura social da família. Além disso, a brincadeira se apresenta como uma conexão entre a história da família, a da criança e uma nova que está sendo criada por meio do brincar.
Por que brincar em família está associado à felicidade?
O ambiente do brincar é relacionado a uma forte sensação de segurança, pertencimento, relaxamento, demonstração de afeto, estímulo à conexão e troca de interesses em comuns e satisfação com os relacionamentos. Pesquisadores demonstram que famílias que separam tempo para brincar ou que conseguem incorporá-lo dentro de suas práticas cotidianas possuem maior satisfação em relação à sua qualidade de vida.
Além disso, atividades lúdicas e de cuidado presentes na primeira infância possuem benefícios de curto e longo prazo para a criança, como uma maior habilidade na resolução de problemas, facilidade na aquisição de habilidades matemáticas e de leitura e maior responsabilidade comunicativa. O envolvimento da família com o brincar coletivamente se relaciona também com experiência de menos depressão, sofrimento emocional, expressões de emocionalidade negativa, como medo e culpa, ansiedade, problemas de conduta, maior senso de competência social, motivação, empatia e níveis mais altos de felicidade auto-relatada ao longo da vida da criança.
Qual a vantagem de se unir ao mundo da criança?
Há vantagens também para todos os membros da família que se identificam como uma unidade, uma equipe por meio da brincadeira. A criança interior dos adultos é reavivada, a confiança entre os pares, revigorada, e a criação de experiências em comum fortalece o vínculo. Em suma, o brincar se constitui em uma atividade de cuidado individual e coletiva, visto que promove o relaxamento e o contato com a espontaneidade e a criatividade.
Afinal, como a brincadeira pode fazer parte do dia a dia?
- Em primeiro lugar, comece com objetivos pequenos. A brincadeira precisa ser uma ação espontânea e descontraída. Não se force a brincar quando não se sente bem para isso.
- Em segundo lugar, pense em como incorporar o brincar em partes da sua rotina com a criança. Um banho, por exemplo, pode se constituir em uma atividade lúdica em que a criança e o adulto podem fazer desenhos no box do chuveiro com sabão.
- Em terceiro lugar, no momento da brincadeira, esqueça do trabalho ou outras preocupações. Exercite estar presente apenas naquele momento, concentre-se nas emoções da criança e se conecte com a sua criança interior.
- Por sim, em quarto lugar, compartilhe com sua criança lembranças, fotos e brincadeiras de sua geração. Explore sua memória tão longe quanto puder até a memória mais clara, alegre e brincalhona que recordar. Permita que ela faça o mesmo. Busque conhecer sobre o mundo dela e criem juntos novas brincadeiras.
Divida conosco suas lembranças, suas brincadeiras e suas estratégias para manter viva sua criança interior e a brincadeira no seu cotidiano familiar!
Leia mais:
0 comentários